domingo, 14 de fevereiro de 2016

Alto da Vela - entre a beleza e o suicídio


Cresci a admirar este espaço - miradouro Alto da Vela - Praia da Amoeira, entre Santa Cruz e Praia Azul.
 
Quem chega, por norte, ou sul depara-se com este cenário - o velho miradouro, composto por um muro que serve de guarda, um pequeno banco de alvenaria e no meio, comode uma escultura s e tratasse, temos o velho marco geodésico. À 1ª vista parece um espaço pobre, sem interesse, mas quem o conhece, sabe a sua riqueza - para lá do muro, o mar e uma linha de costa de uma beleza inigualável - a norte, as arribas de cor de fogo, a Praia Formosa, o Penedo do Guincho, a Torre, Santa Rita, e quando o clima ajuda - Peniche e as Berlengas. Para sul, o extenso areal da Praia Azul, a Foz do Sizandro, os campos verdes da Quinta da Areia. Para traz das costas, uma panorâmica fantástica de 360º sob o concelho de Torres Vedras, avistando-se o Varatojo e a Serra de Montejunto, mas no meio, abaixo do olhar, ainda temos o aeródromo de Santa Cruz e claro, a mais bela terra do mundo - a Boavista (declaração de interesses - onde cresci)
 
No entanto, ao longo das ultimas décadas este espaço tem-se tornado num fazedor de sentimentos antagónicos. Hoje o meu pensamento não foi para a beleza do espaço, mas sim para todos aqueles que ao longo de décadas, aqui têm encontrado forças para colocar termo à vida. O que leva as pessoas a deslocarem-se vários quilómetros, estacionarem os automóveis (alguns aqui, onde estacionei o meu para desenhar), saírem, caminharem até ao muro e daí se atirarem de uma altura de cerca de 90m. Porquê??? Coragem/cobardia; alegria/tristeza; saúde/doença; certezas/incertezas?? Não sei, o que eu sei é que aqui perdemos, ainda esta semana, uma pessoa muito querida por todos os torrienses, a Dona Maria do Carmo, que brindou-nos com o seu sorriso, ao longo de 40 anos atrás do balcão da "Brazileira de Torres Vedras"

2 comentários:

  1. Gostei da expressão "têm encontrado forças para colocar termo à vida", pois, contrariamente ao que muitos dizem, creio que o suicídio é um acto de coragem e não de cobardia. De qualquer das formas, requer "forças". Em certo sentido e, ao menos em alguns casos, talvez encerre, também, uma certa dose de "poesia", a que a beleza do cenário escolhido não deve ser, de todo, indiferente... Mas o que podemos saber sobre o que passa pela mente num momento assim definitivo?!

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    1. é verdade, mesmo verdade... a beleza do lugar pode significar a imagem que aqueles que partem, pretendem levar na mente, numa esperança que essa memória possa vir a ser recuperada em algum momento. mas como diz, não podemos sequer imaginar o porquê desta escolha. obrigado pelo comentário

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Nota Biográfica

André Duarte Baptista, arquiteto, nasce em 1980 na cidade de Torres Vedras, onde reside e trabalha. Em 2013, obtém o grau mestre em arqui...