quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

De Monte Redondo, à Loubagueira


De Monte Redondo, à Loubagueira

15 Km de caminhada ilustrada


9:00


De regresso a Torres Vedras, volto a escolher as aldeias do meu concelho para as caminhadas ilustradas. 
Desta vez optei pela freguesia de Maxial e Monte Redondo, localizado na zona nascente do concelho. Iniciei junto ao cemitério de Monte Redondo, entrando por uma zona de eucaliptos rumo à Quinta das Lapas. Passados alguns quilómetros verifico uma alteração na paisagem - o abate de alguns hectares de eucalipto. Nada a lamentar, apenas o facto de já estar prevista a replantação  desta espécie. Mas estas alterações, na maioria dos casos, permitem-nos fazer novas descobertas - num monte na zona poente da quinta das Lapas surgiu uma antiga atalaia, que há muito andava desaparecida. Não desenhei logo esta estrutura, deixando para mais tarde. A primeira "paragem técnica" foi junto a um casa em ruínas. Atualmente é conhecido como casal Pingue, no entanto, na cartografia do Filipe Folque, da década de 1850, aparece como Casal Victorino. 

Apesar de apresentar uma dimensão razoável para um casal, a área destinada à habitação é bastante diminuta, apresentando apenas 4 divisões, pois dava-se mais importância às instalações que garantiam o sustento das famílias. Entrava-se pela sala, que assumia sobretudo o papel de zona de circulação de acesso à cozinha e ao quarto principal. Todas as divisões tinham uma pequena janela com enquadramentos dignos de um postal, mas naquela altura a preocupação era outra - a orientação solar e a ventilação. As vistas bonitas era coisa de ricos. A única divisão que não tinha janela, era o chamado quarto dos fundos, com uma área bastante reduzida, cujo acesso era feito através da cozinha, por onde também se acedia ao celeiro. Esta porta denúncia a importância do celeiro, pois a porta de madeira de duas folhas "carrega" duas cruzes pontadas a preto, para que as colheitas fossem abençoadas. A cozinha ainda tem parte do forno, assim como uma bancada com alguns objetos do quotidiano da última família que ali habitará: um porta moedas, algum talher e até alguns brinquedos de crianças. O celeiro, que também tinha uma porta virada para o logradouro a sul, por onde entravam as colheitas, é maior que toda a habitação, assim como a adega, localizada na zona norte da edificação, cujo acesso era feito pelo interior do celeiro, ou pelo exterior, por uma porta de "grande dimensão" orientada a poente. A adega ainda conta com um lagar e respectivo fuso, assim como dois depósitos de betão. No desenho abaixo, regista-se fachada principal, que nos revela que nesta zona o material utilizado com maior frequência era a pedra, em detrimento do Adobe. A explicação é simples - proximidade às serras. Deixo-vos ainda uma planta esquemática do conjunto edificado.



Rumo no sentido da Quinta das lapas. A meio caminho, faço alguns registos da ruína da atalaia e da antiga capela da quinta. 





O último desenho apresenta-nos a quinta das lapas. O frontão neoclássico é da nova capela. Já fiz vários desenhos da quinta, por essa razão, opto por não me perder novamente com a riqueza deste conjunto arquitectónico, dando prioridade a um elemento menos conhecido - a mina de água que alimentava à quinta, localizada no topo nascente da quinta, numa cota elevada, junto à localidade de Lapas Grandes (1° desenho abaixo).


Sigo caminho rumo aos moinhos eólicos no topo da serra. Nova paragem técnica, aproveitando para contemplar a paisagem. Estou num dos pontos mais elevados do concelho. Daqui avisto a cidade com o seu castelo e o forte de São Vicente, mas também Varatojo. A norte tenho a Loubagueira, Maxial e  Campelos. 
Sigo caminho rumo à Loubagueira, mas sem antes de subir a um novo monte sobranceiro a essa aldeia. Junto aos moinhos, encontro à ruína de um antigo moinho, que foi aproveitada como base para um marco geodésico. Caminho alguns quilómetros no topo da serra, onde encontro uma Torre de controlo para o combate aos incêndios, com uma vista de 360º sobre todo o concelho. Não deixa de ser curioso, que esta torre também tenha sido implanta em cima  da fundação de um antigo moinho.


Desço pelo interior de um novo eucaliptal e eis que entro na Loubagueira implantada numa elevação. Ao fundo,  a capela, construída no séc. XX, apresentando uma arquitetura muito estranha. Caminho junto a uma ribeira num pequeno vale encaixado entre o o monte e a aldeia. Volto a subir e encontro às últimas casas. Entro num novo eucaliptal, caminhando por alguns caminhos por onde andam apenas tractores e outras máquinas associadas à produção destas árvores. Pelo meio encontro uma estrutura construída que terá servido como torre de controlo no combate aos incêndios. Cruzo-me com a estrada vai para Monte Redondo, que já foi sede de freguesia. Hoje integra a União de Freguesias de Maxial e Monte Redondo. Ao fundo, a igreja que se destaca no meio do casario. Viro à direita, rumo ao cemitério que fica fora do lugar. Termino onde comecei, mas sem antes ter encontrado uma nova construção, que também desconhecia a sua existência - um antigo forno de cal, encaixado no monte e camuflado pelas canas. A estrutura principal mantém-se intacta tendo perdido apenas a cúpula, que funcionava também como chaminé e o telheiro frontal , conforme desenho abaixo .


Caminhar e desenhar dá-nos um tempo diferente, um tempo longo, que nos permite interagir com os lugares e pessoas, e treinar o olhar, um olhar que já não se limita a olhar, mas sim a VER.

Trilho completo com fotos, AQUI

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Nota Biográfica

André Duarte Baptista, arquiteto, nasce em 1980 na cidade de Torres Vedras, onde reside e trabalha. Em 2013, obtém o grau mestre em arqui...