quarta-feira, 4 de abril de 2018

Silveira: entre o campo e o mar

A silveira é uma freguesia do município de Torres Vedras, cujo território se divide "entre o campo e o litoral". Ultimamente tenho dedicado parte do meu tempo a conhecer melhor a freguesia onde vivo desde sempre. Pensamos que conhecemos, mas quando começamos a olhar com olhos de ver, percebemos que há uma imensidão de lugares a explorar.
 
Na passada 6ª feira, feriado, fiz uma caminhada, que me habituei a fazer desde muito pequeno, partindo da casa dos meus avós e pais (Boavista), até ao Alto da Vela.
 
A primeira paragem foi o Casal dos Corvos, ou pelo menos o que resta dele. Este casal pertence à família do meu avô há pelo menos 400 anos. Hoje, já não temos qualquer ligação, resta-nos a ligação afectiva. Ver o estado em que se encontra deixa-nos frustrados. Restam-nos as memórias. O poço de água, onde a minha tia-avó Germana tirava água para regar os seus belos jardins e enchia o tanque para lavar a roupa. O poço era um verdadeiro centro comunitário, uma verdadeira festa. Nos dias de calor o tanque transformava-se em piscina. Morreu a tia-avó, morreram as flores, ficam as memórias.
O Curral das ovelhas do tio-avô Joaquim Gigante está à venda. A ruína tomou conta dele. Em tempos foi abrigo de um dos maiores rebanhos da freguesia, cerca de 100 ovelhas e 20 cabras. Em tempos representava vida, hoje a morte, a morte da pastorícia, mas pior que isso, a morte dos últimos pastores do Casal dos Corvos: Joaquim e Germana.
 
 
O Casal dos Corvos, para além do casario tinha um conjunto de terras que se estendia até ao Alto da Vela. As terras também têm nome: Terra da Vinha; Rodelo; Cabeço das Mamas; Poço das Vacas... Parte dessas terras ainda se mantém na família, onde o os meus avós têm um pequeno casal com animais e hortas. A chuva floriu os campos, com cores de uma beleza única e inconfundível. A memória leva-me a viajar no tempo, o tempo em que eu vinha com os meus primos apanhar a espiga, o tempo em que vínhamos brincar por entre os campos de trigo, o tempo das vindimas, o tempo da apanha da batata e o almoço comunitário na fazenda entre proprietários, família, amigos e trabalhadores.
 
 
Com a idade íamos ganhando a confiança dos nosso pais e avós e íamos "conquistando o nosso território". O céu era o limite, neste caso era o Alto da Vela o nosso fruto proibido, pela distância e pelo perigo das arribas. Uma verdadeira aventura. 
 
 
 
Não vos canso mais com esta minha viagem nostálgica.
 
 

4 comentários:

  1. ...como eu o entendo André...olhando para as ruinas onde temos as nossas raizes....belos desenhos.

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  2. Ah...(suspiro)! Apesar de serem tuas, estas memórias fizeram-me recordar as minhas "aventuras" e dos meus irmãos pela terra desconhecida de Azurara (ao lado de Vila do Conde)onde a minha bisavó materna e o meu avô ainda mantinham o solar para passarmos as férias grandes. Obrigada por com os teus desenhos e memórias partilhadas me fazeres recordsr tão bons tempos. Até amanhã.

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    1. Que bom, poder contribuir para essas boas lembranças. até breve Teresa

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Nota Biográfica

André Duarte Baptista, arquiteto, nasce em 1980 na cidade de Torres Vedras, onde reside e trabalha. Em 2013, obtém o grau mestre em arqui...