terça-feira, 10 de abril de 2018

Dia Nacional dos Moinhos | Parte da Tarde

Seguimos para Caixeiros, mais um moinho à nossa espera, um moinho e pão quente cosido no forno a lenha.



Enquanto conversavam e saboreavam as melhores merendeiras com chouriço (e não só) do mundo, eu aproveitei para saborear o sol que de repente interrompeu a chuva que caia copiosamente, acompanhado por mais um desenho. Já o desenhei muitas vezes, mas aparece sempre um novo detalhe.

Moinho e casa do pão (ilustração do autor). 


Foi construído em 1836, pertencendo à família do "João Capirote". Nasceu com o nome de Moinho da Várzea, devido ao local onde se encontra implantado - uma várzea. Muitos duvidaram da sanidade mental de quem o construiu - "Um moinho numa várzea?" - Sim, talvez tenha sido o único no concelho, mas a verdade é que ainda hoje funciona na perfeição. Visionário o Sr. Capirote. Rapidamente passou a ser conhecido pelo "Moinho do Capirote" e mais tarde "Moinho dos Caixeiros". Hoje, o moleiro é o Sérgio Alves, filho e neto de moleiro. Chegou a pensar que não seguiria com a profissão dos seus antepassados, já que apenas no ano de 2000 terá assumido o oficio de moleiro aos “comandos” deste moinho.

Fruto de uma parceria entre a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal, ao longo dos últimos 20 anos, conseguiu-se que esta freguesia mantivesse no seu território dois exemplares moinhos (vento e água) devidamente conservados, mas sobretudo "habitados". A azenha foi convertida em posto de turismo e centro interpretativo que conta a história do edifício e o ciclo do pão. O moinho dos Caixeiros foi recuperado e voltou a moer cereais, transformando-se num ponto turístico de referência, pelo valor patrimonial do moinho, mas também pela fama do "pão caseiro" que ali é feito.

Dos cerca de 200 moinhos e 20 azenhas com que o município de Torres Vedras conta, muitos encontram-se em ruína, ou em mau estado de conservação. Alguns foram convertidos em casas, alguns com soluções boas e muitos com soluções duvidosas e constrangedoras. A falta de sensibilidade e conhecimento das pessoas associada à falta de mão-de-obra qualificada e capacidade económica para as intervenções, contribuíram para um cenário crítico, colocando em risco este património cultural material e imaterial, um dos principais pilares da matriz identitária do território de Torres Vedras e de toda a zona Oeste. 
Ainda que lentamente, o cenário começa a inverter-se, mas é preciso fazer mais e para tal será necessário devolvê-los à estima pública. Para isso precisamos de voltar a olhar para eles, perceber o valor que representam, o valor cultural, social, turístico e económico, mas sobretudo o valor patrimonial, tanto na componente física como na componente social. Só podemos valorizar e cuidar aquilo que conhecemos.
O velho moinho tem resistido aos tempos, caminhando para os 200 anos, assente na sua história mas sempre a projectar-se no futuro.





Última paragem - Azenha de Santa Cruz, que dispensa apresentações, não só por ser bastante conhecida, mas sobretudo pela informação que pode (e deve) ser vista no núcleo expositivo. A chuva foi-se, veio o sol, em jeito de compensação aos "desenhadores-guerreiros" que lutaram contra moinhos de vento e que agora encontram o descanso dos justos junto ao moinho de água. É hora de saborear o sol, a brisa e a excelente vista que o mar nos oferece.  Aproveito para fazer esta panorâmica, um verdadeiro lugar-comum, mas foi o que saiu.






Para fechar com chave de ouro, um lanche oferecido pela Junta de freguesia da Silveira, que nos recebe sempre tão bem.


Seguiu-se a habitual foto de grupo com os últimos resistentes.


Os sorrisos falam por si, ficando bem claro que teremos de repetir a experiência. Hoje, os desenhadores foram verdadeiros "caçadores de memórias".

Obrigado a todos aqueles que contribuíram para o sucesso deste encontro e um agradecimento especial aos últimos "guardiães dos moinhos do nosso concelho". 

Mais fotografias e desenhos do evento em Oeste Sketchers

Sem comentários:

Enviar um comentário

Publicação em destaque

Nota Biográfica

André Duarte Baptista, arquiteto, nasce em 1980 na cidade de Torres Vedras, onde reside e trabalha. Em 2013, obtém o grau mestre em arqui...