Cheguei às 11h45, a chuva ameaçou, mas desistiu. O sol convidava a uma caminhada. Estacionei o carro na cota baixa do bairro, junto ao parque verde e pus-me ao caminho.
Olho para cima e vejo o moinho de vento (hoje uma ruína), aquele que está na génese do desenho urbano do bairro - traçado radial.
O bairro residencial encontra-se implantado na encosta nascente de uma colina, junto à Estrada do Zambujal. Apesar do traçado radial, as edificações encontram-se, aparentemente, implantadas de forma orgânica - adaptam-se ao declive do terreno.
O Bairro resulta do Plano Integrado do Zambujal (1973), tratando-se de construção económica de cariz social, levada a cabo pelo Estado - Operação SAAL.Os projectos ficaram a cargo dos arquitectos Ana Salta; António Ferreira Gomes; Francisco Silva Dias.
Ao todo, são 240 fogos distribuídos por moradias em banda, existindo ainda cafés e outros espaços comerciais. As casas têm no máximo dois pisos. Não existem garagens, e o espaço público também não contempla zonas de estacionamento. Resultado - os passeios são ocupados pelos carros, obrigando-nos a caminhar no meio da rua - A pacatez de um sábado de manhã permite-nos a tal. Quando para desenhar, perguntam-me - "Veio ver esta vergonha? Os carros estão em todo o lado, qualquer dia não conseguimos sair de casa"
As escadas ligam as ruas, vencendo o declive, levando-me cada vez mais próximo do moinho. Mas as escadas não são apenas zonas de passagem, são sobretudo zonas de estadia: pátios, logradouros, bancos, jardins, estendais e hortas. Tudo aquilo que fomenta os laços de vizinhança. Algumas são a verdadeira extensão da casa. São o local ideal para uma boa conversa ao sol, ou para um bom churrasco. No patamar de cima ouve-se o estalido do brasido do Sr. António - costeletas grelhadas para o almoço. "É servido ?", pergunta-me ele com um ar divertido enquanto observa-me a desenhar. "Quando eu era novo fazia uns gatafunhos melhores que esses, mas não está mal, não senhor". "Isso é para vender? Aqui não se safa, pois está tudo t....."
No topo, o moinho, que hoje rivaliza as atenções com a catedral do consumo - aquela empresa sueca que vende mobiliário. O ruído visual é tanto, que a pitoresca ruína passa mesmo despercebida na paisagem. O Moinho e o bairro, sendo mesmo muito difícil distingui-los no meio de tanta exuberância formal e cromática (chamemos-lhe assim para não ferir susceptibilidades)
Uma experiência a repetir...
Muito interessante o texto sobre o bairro. E claro, Gostei dos desenhos com apenas esses pequenos apontamentos de cor que dás a este tipo de desenhos. Um abraço.
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